sábado, 7 de dezembro de 2013

Capítulo V

- AAAAAAAAAAAAAAH! - Acordei com um menino pulando em cima da minha cama – Sai de cima de mim, cacete!
- Eu conheço todos os palavrões em inglês. Mamãe me disse que não pode falar tá?
- Tá bom, e quem é sua mãe que não veio te tirar de cima da minha cama ainda?
- Ela falou pra eu te mandar aquilo ali, ó! - E apontou pra uma bandeja de frutas – mordidas - , em cima da mesa.
- E quem mordeu as maçãs ali? E aqueles morangos?
- Ah, fiquei com fome né? Mamãe disse que não pode deixar criança com fome por muito tempo. - Ele sorriu. O sorriso igualzinho ao do Takashi.
- Você é o que daquele chato do Takashi?
- Ele é meu Onii-sama.
- Oni, o quê?
- Ele quis dizer Irmão mais velho. - Olhei para a porta e meu Deus, tive uma visão de um anjo logo de manhã. Esse anjo estava com uma regata branca mostrando os músculos, uma calça jeans toda surrada, descalço e com os cabelos molhados. Provavelmente acabara de sair do banho.
- Ah, como você consegue ser irmão de um chato como ele, hein menino? - Sorri para aquele menino lindo, tão lindo quanto o Takashi, mas com cabelo tigelinha – Qual é o seu nome?
- Eu sou o Kenichi! Ken-Kun!
- Eu acho que vou ter que aprender esses sufixos japoneses, né Kenichi-Kun?
Olhei de relance para o Takashi que ainda continuava na porta, sorrindo. Seu sorriso me contagiou. Infelizmente, quando o idiota percebeu que eu olhava pra ele, fez cara feia e desviou o olhar.
- Vamos Kenichi! Deixa ela comer as... - Ele olhou para a bandeja – Enfim, deixa ela trocar de roupa e descer pra tomar o café da manhã.
O pequeno saiu e Takashi fechou a porta do quarto. Troquei de roupa com a maior calma do mundo, porque se aquele velho estivesse na cozinha, teria tempo suficiente pra terminar seu café e sair de lá.
Coloquei uma saia branca, de seda, uma regata bege meio decotada e uma rasteirinha qualquer que minha mãe me deu. Desci as escadas e me deparei com os dois garotos sentados na mesa e de cara feia.
- Puta que pariu hein menina? Achei que tinha voltado a dormir.
- Onii-Sama! Mamãe disse que não pode falar palavrão! - O Pequeno Matsuda fez biquinho.
- cala a boca pirralho!
- Você me esperou porque quis. Eu não pedi. - Ri de deboche.
- Sua mal agradecida.
- Ô Ali-Chan! Eu acho que se você demorasse mais meia hora, o Onii-San ia te esperar do mesmo jeito. - Kenichi deu risada - Acho que ele quer te beijar. Sabe o que é beijar Ali-Chan? É nojento, mas meu onii-sama gosta.
- UI! O seu Onii-san quer me beijar?
- Dá pra vocês dois calarem a boca? Só estou tentando ser sociável, já que temos uma intrusa nesse lugar.
Fiquei quieta e fui sentar na frente dele. Me debrucei na mesa, pra ficarmos com o rosto mais próximo.
- Hun, você quer me beijar? - Falei de forma sexy. Pelo menos, tentei... - Quer que eu realize seu sonho?
- Você estaria realizando meu pesadelo, isso sim. - Ele riu, sarcástico. - Você não consegue ser sexy.
- Mas por que você olhou para os meus seios?
Ele ficou vermelho.
- Porque você tem peitão Ali-Chan. - Esqueci que o baixinho estava ali do nosso lado. Que vergonha! Ele fez um gesto na frente do corpo pra mostrar o tamanho dos meus seios. - O Takashi disse uma vez que gosta de mulher de peitão.
- Cala a droga da boca, seu pirralho! - Ele se estressou. E eu estava me divertindo com tudo isso - Come tudo aí, vou dar uma volta.
Me levantei rapidamente.
- Espera aí! Eu não tô com fome. Quero ir com você.
- Você não vai vir comigo.
- Vou sim. - Passei ele e entrei no seu carro, que por sorte estava destrancado.
Do carro escutei o Takashi pedindo pro Kenichi avisar a mãe dele que estavam indo no Ichiro. O que é Ichiro? Vi ele chegando perto do carro, com aquela cara de mau humor.
- Onde é Ichiro?
- É o lugar onde a gente leva garotas chatas para serem sacrificadas.
- Vai se fuder. Diz logo.
- É um Cyber Café. - Comecei a mexer no som do carro, procurando alguma música. Só tinha músicas chatas no rádio... Decidi desligar aquela porcaria.
- Ah sim... E lá tem cigarro?
- Você fuma? - Ele arregalou os olhos. Ver um japonês arregalar os olhos é muito engraçado.
- Quando eu tô com vontade.
- Hn.
Ele ficou quieto e fez o caminho todo somente olhando para frente. Até chegar no Cyber Café. Então ele finalmente disse algo, assim que estacionou:
- Odeio mulher que fuma.
Fiquei quieta por um minuto. Ele saiu do carro e ficou me esperando.
- Se eu parar de fumar, você me dá uns pegas? - Sai do carro, mostrando minha melhor expressão de "Me beija" pra ele.
Ele sorriu e acionou o alarme.
- Quem sabe... - Disse baixo, mas eu consegui escutar.

Apenas sorri. Meu dia ficou de repente, melhor do que poderia imaginar. 

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Capítulo IV

"Minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem de grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite." - Clarice Lispector


Eu olhei pra ele. Estava com um sorriso enorme, olhando para mim.
Idiota.
A visão que eu tinha dele de quando eu era criança era completamente diferente. Antes era esbelto e com cabelos negros e bonitos, agora ele estava gordo e com os cabelos já um pouco grisalhos.
Eu o olhei com toda a expressão de nojo e ódio que eu possuía. E seu sorriso desmanchou.

- Bem vinda Alice! - Uma bela japonesa chega do meu lado – Eu sou Iumi, mãe do bonitão do seu lado. - Eu olhei pro Takashi, com cara de deboche.
- Bebezão da mamãe!
-Cala a boca. - Ele me olhou com cara feia, antes de virar a cara.
- Seja bem vinda Alice! - Aquele verme olhou pra mim e abriu os braços, esperando meu abraço.
E eu o ignorei.
- Poderia me mostrar meu quarto, Iumi?
- Claro meu anjo. - Ela sorriu e me indicou o caminho.
Antes que eu pudesse passar do seu lado, o Sr. Hopkins segurou o meu braço.
- Alice...
- Não toque em mim, seu verme!
Ele arregalou os olhos e me soltou. Eu segui Iumi e senti que o Takashi me seguia também.
Subimos as escadas e me deparei com um belo quarto, com paredes vermelhas, e os móveis brancos.
- Bem, esse é seu quarto, Alice. - Iumi sorriu – Espero que goste. Aliás, está com fome? Vou preparar algo para você comer.
Ela saiu e o Takashi entrou no quarto, com aquela habitual cara de malvado.
- Quer me ver trocar de roupa? Senta na cama e fica à vontade que eu faço um strip-tease pra você.
Nenhuma expressão diferente. Nenhuma palavra.
- O que você quer? Se não quer ver meu strip-tease, sai do quarto.
- Eu sei o quanto o seu pai foi idiota no passado. Mas não significa que uma bastarda da Inglaterra possa chegar aqui e revirar essa casa. - Ele chegou muito, muito perto de mim. O suficiente pra eu sentir um perfume amadeirado.
- Olha aqui Senhor Matsuda. Se você entrou no meu quarto pra falar de um papaizinho arrependido que quer tentar conciliação com a filhinha rebelde dele, pode sair pelo mesmo lugar que você entrou.
Ele riu sarcasticamente.
- Na verdade sua vida não me interessa. O que eu realmente queria dizer é que é pra você não fazer uma bagunça nessa casa. Temos problemas demais pra aguentar uma pessoa como você dando trabalho. - Ele sorriu de canto. Com esse sorriso eu senti que apenas queria me deixar brava. Então, preferi ignorar o que ele disse. - Enfim, não ouse entrar no meu quarto e eu saio exatamente às 7:30 da manhã para a universidade. Exatamente. Se você não estiver pronta nesse horário, vai perder a carona.
- Que lindo. Não achei que fosse me dar carona. - Sai de perto dele e comecei a tirar meus sapatos.
- hn – Ele se virou, bem no momento que a Sra Matsuda chegou.
- Meu anjo, eu trouxe uma comidinha pra você. - Olhei para o prato e me surpreendi. Ela havia preparado Cottage Pie (uma torta de carne a base de purê de batata) para mim, típica da Inglaterra. - Andei pesquisando sobre a culinária inglesa e fiz algumas coisinhas para você. Espero que goste!
- Você não precisa se preocupar comigo! - Olhei para o prato e meu estômago roncou alto – Eu como qualquer coisa, aliás, adoro comida japonesa.
Ela me deu o prato e me deliciei com o Cottage. Estava delicioso!
- Muito obrigada Sra. Matsuda! - Comi mais um pedaço e continuei a falar de boca cheia – Todo mundo aqui fala inglês? Minha universidade também terá aulas em inglês?
- Claro. Todos que trabalham aqui falam inglês, coreano e japonês. E sua escola terá aulas exclusivamente em língua inglesa.
- Ah, que bom! - Eu já estava limpando o prato – Porque japonês é uma língua meio difícil.
- Mas você não precisa se preocupar, estamos aqui pra te ajudar.
- Obrigada! - Ela pegou o prato, fez uma pequena reverência com a cabeça antes de se retirar. Vou ter que me acostumar com esses costumes nipônicos...
Desfiz as malas, fui tomar um ótimo banho, troquei de roupa e fiquei o resto do dia procurando algum canal de TV que eu entendesse. Havia alguns canais de filmes, o que me salvou do tédio, já que eu não queria sair do quarto. Tentei o dia todo segurar o sono, pra poder me acostumar com o fuso-horário daqui, já que depois de amanhã começa as aulas.
Eu já não aguentava mais de tanto sono, quando olhei no relógio e era 11:13 pm. Pra minha surpresa tinha um telefone no meu quarto, em cima de uma pequena escrivaninha. Junto ao telefone, havia um papel com número do DDI, pra fazer ligações para a Inglaterra.

Peguei o telefone e liguei pra minha mãe. Tocou bastante até ela decidir atender.
- Mãe?
- Oi Alice! Chegou bem meu amor?
- Sim, mãe. - Minha voz estava sonolenta.
- Você está bem? Como foi de viagem? Comeu bem? Como te trataram? Onde você está agora?
- Sim, mãe. A viagem foi ótima e me trataram bem.
- E seu pai?
- O Sr. Hopkins? Se quer saber, liga pra ele e pergunta.
- Conversou com ele?
- Não.
Ela ficou muda.
- Eu tô aqui no meu quarto. Onde você está?
- Eu... Bem... Estou resolvendo um probleminha aqui.
- Certo. E onde?
- No hospital.
- Fazendo o quê aí? - Percebi que o sono estava tomando conta de mim.
- Isso é algo que seria melhor conversarmos depois com mais calma. Você está bem mesmo? Sua voz...
- Tô com sono...
- Então vá dormir.
- Ahan... - Meus olhos estavam tremendamente pesados e como eu estava com o telefone deitada na cama, me sentia cada vez mais tentada a fechá-los e não abrí-los até segunda-feira. - Me fala por que está no  hospital, mãe!
- Tenho que desligar agora. Se cuide e qualquer coisa, sua mãe está aqui.
- Mãe, caralho!!! - Ela desligou e ainda brava, adormeci.