sábado, 7 de dezembro de 2013

Capítulo V

- AAAAAAAAAAAAAAH! - Acordei com um menino pulando em cima da minha cama – Sai de cima de mim, cacete!
- Eu conheço todos os palavrões em inglês. Mamãe me disse que não pode falar tá?
- Tá bom, e quem é sua mãe que não veio te tirar de cima da minha cama ainda?
- Ela falou pra eu te mandar aquilo ali, ó! - E apontou pra uma bandeja de frutas – mordidas - , em cima da mesa.
- E quem mordeu as maçãs ali? E aqueles morangos?
- Ah, fiquei com fome né? Mamãe disse que não pode deixar criança com fome por muito tempo. - Ele sorriu. O sorriso igualzinho ao do Takashi.
- Você é o que daquele chato do Takashi?
- Ele é meu Onii-sama.
- Oni, o quê?
- Ele quis dizer Irmão mais velho. - Olhei para a porta e meu Deus, tive uma visão de um anjo logo de manhã. Esse anjo estava com uma regata branca mostrando os músculos, uma calça jeans toda surrada, descalço e com os cabelos molhados. Provavelmente acabara de sair do banho.
- Ah, como você consegue ser irmão de um chato como ele, hein menino? - Sorri para aquele menino lindo, tão lindo quanto o Takashi, mas com cabelo tigelinha – Qual é o seu nome?
- Eu sou o Kenichi! Ken-Kun!
- Eu acho que vou ter que aprender esses sufixos japoneses, né Kenichi-Kun?
Olhei de relance para o Takashi que ainda continuava na porta, sorrindo. Seu sorriso me contagiou. Infelizmente, quando o idiota percebeu que eu olhava pra ele, fez cara feia e desviou o olhar.
- Vamos Kenichi! Deixa ela comer as... - Ele olhou para a bandeja – Enfim, deixa ela trocar de roupa e descer pra tomar o café da manhã.
O pequeno saiu e Takashi fechou a porta do quarto. Troquei de roupa com a maior calma do mundo, porque se aquele velho estivesse na cozinha, teria tempo suficiente pra terminar seu café e sair de lá.
Coloquei uma saia branca, de seda, uma regata bege meio decotada e uma rasteirinha qualquer que minha mãe me deu. Desci as escadas e me deparei com os dois garotos sentados na mesa e de cara feia.
- Puta que pariu hein menina? Achei que tinha voltado a dormir.
- Onii-Sama! Mamãe disse que não pode falar palavrão! - O Pequeno Matsuda fez biquinho.
- cala a boca pirralho!
- Você me esperou porque quis. Eu não pedi. - Ri de deboche.
- Sua mal agradecida.
- Ô Ali-Chan! Eu acho que se você demorasse mais meia hora, o Onii-San ia te esperar do mesmo jeito. - Kenichi deu risada - Acho que ele quer te beijar. Sabe o que é beijar Ali-Chan? É nojento, mas meu onii-sama gosta.
- UI! O seu Onii-san quer me beijar?
- Dá pra vocês dois calarem a boca? Só estou tentando ser sociável, já que temos uma intrusa nesse lugar.
Fiquei quieta e fui sentar na frente dele. Me debrucei na mesa, pra ficarmos com o rosto mais próximo.
- Hun, você quer me beijar? - Falei de forma sexy. Pelo menos, tentei... - Quer que eu realize seu sonho?
- Você estaria realizando meu pesadelo, isso sim. - Ele riu, sarcástico. - Você não consegue ser sexy.
- Mas por que você olhou para os meus seios?
Ele ficou vermelho.
- Porque você tem peitão Ali-Chan. - Esqueci que o baixinho estava ali do nosso lado. Que vergonha! Ele fez um gesto na frente do corpo pra mostrar o tamanho dos meus seios. - O Takashi disse uma vez que gosta de mulher de peitão.
- Cala a droga da boca, seu pirralho! - Ele se estressou. E eu estava me divertindo com tudo isso - Come tudo aí, vou dar uma volta.
Me levantei rapidamente.
- Espera aí! Eu não tô com fome. Quero ir com você.
- Você não vai vir comigo.
- Vou sim. - Passei ele e entrei no seu carro, que por sorte estava destrancado.
Do carro escutei o Takashi pedindo pro Kenichi avisar a mãe dele que estavam indo no Ichiro. O que é Ichiro? Vi ele chegando perto do carro, com aquela cara de mau humor.
- Onde é Ichiro?
- É o lugar onde a gente leva garotas chatas para serem sacrificadas.
- Vai se fuder. Diz logo.
- É um Cyber Café. - Comecei a mexer no som do carro, procurando alguma música. Só tinha músicas chatas no rádio... Decidi desligar aquela porcaria.
- Ah sim... E lá tem cigarro?
- Você fuma? - Ele arregalou os olhos. Ver um japonês arregalar os olhos é muito engraçado.
- Quando eu tô com vontade.
- Hn.
Ele ficou quieto e fez o caminho todo somente olhando para frente. Até chegar no Cyber Café. Então ele finalmente disse algo, assim que estacionou:
- Odeio mulher que fuma.
Fiquei quieta por um minuto. Ele saiu do carro e ficou me esperando.
- Se eu parar de fumar, você me dá uns pegas? - Sai do carro, mostrando minha melhor expressão de "Me beija" pra ele.
Ele sorriu e acionou o alarme.
- Quem sabe... - Disse baixo, mas eu consegui escutar.

Apenas sorri. Meu dia ficou de repente, melhor do que poderia imaginar. 

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Capítulo IV

"Minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem de grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite." - Clarice Lispector


Eu olhei pra ele. Estava com um sorriso enorme, olhando para mim.
Idiota.
A visão que eu tinha dele de quando eu era criança era completamente diferente. Antes era esbelto e com cabelos negros e bonitos, agora ele estava gordo e com os cabelos já um pouco grisalhos.
Eu o olhei com toda a expressão de nojo e ódio que eu possuía. E seu sorriso desmanchou.

- Bem vinda Alice! - Uma bela japonesa chega do meu lado – Eu sou Iumi, mãe do bonitão do seu lado. - Eu olhei pro Takashi, com cara de deboche.
- Bebezão da mamãe!
-Cala a boca. - Ele me olhou com cara feia, antes de virar a cara.
- Seja bem vinda Alice! - Aquele verme olhou pra mim e abriu os braços, esperando meu abraço.
E eu o ignorei.
- Poderia me mostrar meu quarto, Iumi?
- Claro meu anjo. - Ela sorriu e me indicou o caminho.
Antes que eu pudesse passar do seu lado, o Sr. Hopkins segurou o meu braço.
- Alice...
- Não toque em mim, seu verme!
Ele arregalou os olhos e me soltou. Eu segui Iumi e senti que o Takashi me seguia também.
Subimos as escadas e me deparei com um belo quarto, com paredes vermelhas, e os móveis brancos.
- Bem, esse é seu quarto, Alice. - Iumi sorriu – Espero que goste. Aliás, está com fome? Vou preparar algo para você comer.
Ela saiu e o Takashi entrou no quarto, com aquela habitual cara de malvado.
- Quer me ver trocar de roupa? Senta na cama e fica à vontade que eu faço um strip-tease pra você.
Nenhuma expressão diferente. Nenhuma palavra.
- O que você quer? Se não quer ver meu strip-tease, sai do quarto.
- Eu sei o quanto o seu pai foi idiota no passado. Mas não significa que uma bastarda da Inglaterra possa chegar aqui e revirar essa casa. - Ele chegou muito, muito perto de mim. O suficiente pra eu sentir um perfume amadeirado.
- Olha aqui Senhor Matsuda. Se você entrou no meu quarto pra falar de um papaizinho arrependido que quer tentar conciliação com a filhinha rebelde dele, pode sair pelo mesmo lugar que você entrou.
Ele riu sarcasticamente.
- Na verdade sua vida não me interessa. O que eu realmente queria dizer é que é pra você não fazer uma bagunça nessa casa. Temos problemas demais pra aguentar uma pessoa como você dando trabalho. - Ele sorriu de canto. Com esse sorriso eu senti que apenas queria me deixar brava. Então, preferi ignorar o que ele disse. - Enfim, não ouse entrar no meu quarto e eu saio exatamente às 7:30 da manhã para a universidade. Exatamente. Se você não estiver pronta nesse horário, vai perder a carona.
- Que lindo. Não achei que fosse me dar carona. - Sai de perto dele e comecei a tirar meus sapatos.
- hn – Ele se virou, bem no momento que a Sra Matsuda chegou.
- Meu anjo, eu trouxe uma comidinha pra você. - Olhei para o prato e me surpreendi. Ela havia preparado Cottage Pie (uma torta de carne a base de purê de batata) para mim, típica da Inglaterra. - Andei pesquisando sobre a culinária inglesa e fiz algumas coisinhas para você. Espero que goste!
- Você não precisa se preocupar comigo! - Olhei para o prato e meu estômago roncou alto – Eu como qualquer coisa, aliás, adoro comida japonesa.
Ela me deu o prato e me deliciei com o Cottage. Estava delicioso!
- Muito obrigada Sra. Matsuda! - Comi mais um pedaço e continuei a falar de boca cheia – Todo mundo aqui fala inglês? Minha universidade também terá aulas em inglês?
- Claro. Todos que trabalham aqui falam inglês, coreano e japonês. E sua escola terá aulas exclusivamente em língua inglesa.
- Ah, que bom! - Eu já estava limpando o prato – Porque japonês é uma língua meio difícil.
- Mas você não precisa se preocupar, estamos aqui pra te ajudar.
- Obrigada! - Ela pegou o prato, fez uma pequena reverência com a cabeça antes de se retirar. Vou ter que me acostumar com esses costumes nipônicos...
Desfiz as malas, fui tomar um ótimo banho, troquei de roupa e fiquei o resto do dia procurando algum canal de TV que eu entendesse. Havia alguns canais de filmes, o que me salvou do tédio, já que eu não queria sair do quarto. Tentei o dia todo segurar o sono, pra poder me acostumar com o fuso-horário daqui, já que depois de amanhã começa as aulas.
Eu já não aguentava mais de tanto sono, quando olhei no relógio e era 11:13 pm. Pra minha surpresa tinha um telefone no meu quarto, em cima de uma pequena escrivaninha. Junto ao telefone, havia um papel com número do DDI, pra fazer ligações para a Inglaterra.

Peguei o telefone e liguei pra minha mãe. Tocou bastante até ela decidir atender.
- Mãe?
- Oi Alice! Chegou bem meu amor?
- Sim, mãe. - Minha voz estava sonolenta.
- Você está bem? Como foi de viagem? Comeu bem? Como te trataram? Onde você está agora?
- Sim, mãe. A viagem foi ótima e me trataram bem.
- E seu pai?
- O Sr. Hopkins? Se quer saber, liga pra ele e pergunta.
- Conversou com ele?
- Não.
Ela ficou muda.
- Eu tô aqui no meu quarto. Onde você está?
- Eu... Bem... Estou resolvendo um probleminha aqui.
- Certo. E onde?
- No hospital.
- Fazendo o quê aí? - Percebi que o sono estava tomando conta de mim.
- Isso é algo que seria melhor conversarmos depois com mais calma. Você está bem mesmo? Sua voz...
- Tô com sono...
- Então vá dormir.
- Ahan... - Meus olhos estavam tremendamente pesados e como eu estava com o telefone deitada na cama, me sentia cada vez mais tentada a fechá-los e não abrí-los até segunda-feira. - Me fala por que está no  hospital, mãe!
- Tenho que desligar agora. Se cuide e qualquer coisa, sua mãe está aqui.
- Mãe, caralho!!! - Ela desligou e ainda brava, adormeci.

domingo, 24 de novembro de 2013

Capítulo III

Tóquio.

Uma única cidade com dois mundos diferentes. De um lado a calmaria de santuários xintoístas, do outro, um centro turbulento e completamente tecnológico, com pessoas de cabelos diferentes, estilos diferentes e pensamentos mais diferentes ainda. E é nesse mundo que uma inglesa se enfia como uma intrusa.
Desço do avião, no aeroporto Internacional de Haneda. Muita gente, muita movimentação e aquelas letras estranhas em japonês. Depois de 19 horas eu ainda me sinto meio zonza e com sono, pelo horário estranho desse país. Olho no meu relógio. 05:28. Em Londres, minha mãe deve estar dormindo ainda. E aqui, oito horas mais tarde,  está todo mundo em completa turbulência.
Minha mãe me disse que o enteado daquele homem que se denomina meu pai estaria me esperando. Mas eu não o conheço e ele também não me conhece.

Então eu fico com minhas enormes bagagens que nem uma idiota, olhando pra todos os lados, pra ver se não via algum japa com um papel escrito bem grande o nome: "ALICE". Quem sabe né?
Então eu vejo um cara sentado um pouco mais adiante de onde eu estava. Meu Deus. Que músculos são aqueles? Esse sem dúvida é o cara mais gostoso que eu já vi. Eu não poderia perder essa oportunidade NUNCA!
Peguei meu carrinho com as bagagens e fui em direção ao garoto. Havia tantos rostos e corpos iguais e ele se destacava por aquele corpo musculoso e aquele rosto de malvado. O tipo de homem dos meus sonhos.
Cheguei perto dele e o vi com mais detalhe: gato, gostoso, cheiroso e musculoso.
- Você é muito gostoso, sabia? - Ele me olhou e ergueu uma sobrancelha. - O cara mais gostoso que já vi.
E me virei. Dando graças à Deus pelo cara não saber minha líng..
- Você é a Alice?
OH MEU DEUS.
Eu me virei, já sentindo meu rosto corar violentamente.
- So... sou. E você? - Claro que eu já sabia quem era. Minha cara foi pro chão.
- Sou o Takashi. Takashi Matsuda. Seu... irmão mais velho - Falou em tom de deboche.
- Ah claro, acabei de dar em cima do meu irmão. - Ri sarcasticamente, entrando na brincadeira dele. - Esqueça o ocorrido. Tô falando sério.
Ele apenas deu risada e colocou a mão no bolso da calça social. Ele vestia uma camisa social azul escura, junto com a calça preta.
Meu Deus, que Deus Grego! Quer dizer, esse aqui é um Deus Japonês.
- Vai ficar olhando pra minha cara por mais quanto tempo?
Ops.
- Vai se foder. Só leva minha bagagem.
E me virei. Lindo, mas chato. Gostoso, maravilhoso, musculoso, mas ignorante. Por que meu Deus? Por que Você cria um cara lindo, mas coloca uma personalidade ruim nele?
Nós saímos do aeroporto e um Porsche Carrera preto nos esperava. Takashi jogou minhas malas no banco de trás. Apesar de me irritar pelo modo como ele tratava minhas malas, eu adorei ver aqueles músculos querendo rasgar a blusa social dele. A força que ele fazia pra segurar as minhas malas pesadas, me fazia sentir...
- Porque você não para de babar e entra no carro?
Idiota. Só é chato porque é lindo.
Entrei no carro, quieta.
- Só porque eu te chamei de gostoso, não significa que você pode se achar, tá bom? Eu tenho o meu orgulho, colega.
Ele riu.
- O mais engraçado foi a sua cara quando percebeu que eu entendia muito bem seu inglês britânico.
- Hn. - Virei a cara. Só esperava que ele esquecesse esse ocorrido. - Aquele idiota tá na casa dele agora?
- Que idiota?
- Meu... - Respirei - O Sr. Hopkins. John Hopkins.
- Seu pai, você quer dizer, né? - disse em tom irônico.
- Não, o Sr. Hopkins.
Ele ficou quieto, por um momento.
- Sim, o Sr. Hopkins estará esperando a senhorita, assim como todos da casa.
- Não me chame de senhorita. Meu nome é Alice.
- Vou te chamar de Ally.
- Eu disse Alice!
- Ally. - E riu sarcasticamente. Idiota.
- Aliás, quantos moram naquela casa?
- Seu... - Ele arrumou rapidamente - O Sr. Hopkins decidiu parar todo mundo, inclusive os empregados, pra fazer uma festa de boas-vindas pra você. Como agora você sabe, finja surpresa.
- Aquele verme fez festinha?
- Finja surpresa, já disse.
Chegamos em frente de uma mansão. Juro que o lugar é enorme! Vou me perder facilmente aqui. Na verdade só espero me perder no quarto do Takashi.
Sai do carro dele e mais à frente haviam mais dois estacionados: Um Toyota Avalon preto com vidros completamente escuros e uma Lamborghini vermelha.
Apareceu um mordomo na frente da mansão e começou a tirar as malas.
- Vamos acabar com isso logo - Takashi disse, puxando meu braço pra dentro.

Ele abriu a porta e me senti no inferno. Por um segundo, eu gostaria de estar em qualquer lugar. Qualquer um, menos aqui.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Capitulo II

Nessa madrugada eu tive um sonho. Nesse sonho, eu estava em uma rua movimentada. Todas as pessoas tinham os olhos puxados e, como estava uma chuva tremendamente forte, todos tinham um guarda-chuva, menos eu. Eu estava molhada e olhava para frente. Olhava para a única pessoa que não possuía olhos rasgados além de mim. Olhava para um homem inglês, de terno preto que me encarava severamente, me chamando de filha.
-Você nunca será meu pai! - Tentei gritar, mas minha voz não saiu.
E então, como se ele tivesse escutado o que eu disse, senti sua raiva fluindo de seus olhos e, depois de muitos anos, eu senti medo.


Acordei assustada. Odiava sonhar com ele. E ainda lembrar do crápula que foi com a minha mãe,  chega a me dar nojo.
Enquanto lembrava daquele homem frio, alguém bate na porta.
- Srta. Smith? - Era Anny – Preciso arrumar as malas!
Olho no relógio, 6:57.
- Entre Anny!
A empregada entrou quieta e começou a pegar minhas roupas.
- Eu vou levar tudo, Anny! Não quero que aquele velho gaste um centavo comigo.
- Você nunca pensou que ele poderia ter mudado, Alice?
- Quem nasce pra ser filho da puta, não muda tão fácil.
Ela sorriu. A Anny gosta das minhas euforias, dos meus palavrões. Mas, ao contrário de mim, ela é toda menininha, toda inocente. Mesmo assim nos damos muito bem.
Enquanto ela arrumava as malas, eu fui tomar um banho. O relógio marcava 8 em ponto, quando fiquei pronta. Minhas malas estavam na porta do meu quarto, e quando vi aquele porta-retrato de mim e da minha mãe na nossa última viagem a Alemanha, no dia que ela disse que sofreria tudo de novo, somente para me ter como filha, senti um aperto no peito.
Um ano é muito tempo. Muito tempo pra quem nunca deixou a mãe sozinha. Pra quem nunca ficou longe de casa.
- Já está pronta Alice? - Minha mãe estava na porta, de social. Linda.
- Sim, vamos? - Peguei o porta-retrato – Vou levar isto.
- Você vai gostar tanto de lá que vai se esquecer de mim! - Ela riu e tratei de fazer minha melhor expressão irônica – Para de ser boba menina! Lá não é tão ruim do jeito que você pensa! Vamos logo!
A empregada me ajudou a pegar minhas malas e o motorista  colocou dentro do porta-malas. Em 20 minutos eu já estava no aeroporto e pronta pra ir direto ao matadouro. Minha mãe sentiu minha raiva e apenas me abraçava. Além de falar que nem um papagaio.
- A escola de lá é ótima! Seu pai disse que é uma das dez melhores do mundo! E quando você terminar a faculdade já pode até mesmo trabalhar lá com ele! E...
-MÃE! -Dei um grito no aeroporto e algumas pessoas olharam pra mim – Já chega, caralho! Já é muito você me obrigar a ir pra esse inferno morar com um Demônio que é aquele filho da puta que você diz ser meu pai! Outra coisa, bem pior, é você querer que eu trabalhe com ele! Você ficou louca? Qual é essa de querer que eu fique com aquele inútil agora? Não me suporta mais? - Minha raiva aumentou e em pouco tempo já estavam olhando pra mim – ME MANDA PRA CASA DA MINHA AVÓ, CARALHO! NÃO PRA CASA DAQUELE FILHO DA PUTA!
Minha mãe sempre foi muito calma quando se tratava de nossas brigas. Ela sempre esperava eu explodir, pra depois me dizer algo que me fizesse abaixar a bola e calar a boca. Minha mãe é muito foda. Mas agora ela não tinha razão e nós duas sabíamos disso.
- Me desculpe. Mas não tive outra escolha.
- Você sempre tem mais de uma escolha. Me manda pra um convento, sei lá. Me prende num sanatório ou até pra puta que pariu. Mas não me manda pra lá!
Ela me ignorou enquanto verificava meu passaporte e algumas outras coisas. Minha mãe entende mais disso do que eu, enfim...
- Não me ignora!!
- Olha Alice. Eu já conversei com você. -  Ela se virou para falar algo com o atendente lindo que ficava me encarando – Seu pai não é aquela pessoa de antes. Quando você chegar lá você vai perceber isso.
Então ela saiu da fila pra continuar.
- Vou ser sincera com você minha filha. Seu pai foi um cafajeste, mas foi comigo! Você tem que entender que você não teve nada a ver com isso.  - Ela respirou fundo – Ele foi um ótimo pai, e isso deve ser a única coisa que importa pra você.
- Mas não vou perdoá-lo pelo que fez com você.

“Atenção senhores passageiros, o voo #562, com destino ao Japão...”

- Vamos vamos!! - Nem consegui prestar atenção na mulher do alto-falante, minha mãe mudou o assunto drasticamente falando sobre o voo, que se acontecer algo eu devo pegar aquela máscara de oxigênio e orar, orar, orar... A mesma ladainha que eu escutei na viagem de ida e volta pra Alemanha.
Aliás, onde está o porta-retrato?
-... E eu coloquei seu porta-retrato na mala, sabia que poderia esquecer no carro. - Ela leu a minha mente. Só pode!
Com o último abraço e último adeus, me despedi da Sra. Smith. Ela chorou tanto que seus olhos pareciam cachoeira. Eu, pelo contrário, segurei minhas lágrimas.
Me virei pela última vez para meu amado país.
- Adeus, Inglaterra. - Sussurrei, sentindo meus olhos marejarem, antes de subir no avião.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Capítulo I

Você sai. Você bebe. Você fuma. Você bebe mais ainda. Aí você pega o carro da sua mãe e decide fazer um racha com seu amigo. Mas o último lugar que você quer parar depois de tomar um porre e ainda bater o carro é na delegacia.
- Sim, ela está aqui de novo - O delegado falava no telefone - Sim, Sra. Smith. Dessa vez ela está aqui com um carro batido. - Ele escutava a voz irritante da minha mãe, totalmente atencioso - Seu carro? Puxa... Sim, claro. Até daqui a pouco.
Então ele desligou o telefone e me encarou. Encarou minha roupa também. Eu estava com uma calça jeans bem justa e surrada, uma regata vermelha, uma jaqueta de couro e um all star velho. O Filho da puta tava olhando era o decote da minha blusa, isso sim. E eu estava pouco me importando pra isso. Peguei o cigarro e acendi, ali dentro mesmo.
-Srta. Smith...
- Vá se ferrar. - E dei a primeira tragada.
- Só não te coloco na prisão por causa da sua mãe.
Dei outra tragada e suspirei. Gostaria de matar esse idiota.
- Claro, você não cansa de olhar pra bunda dela. Mas ela não curte caras como você.
Ele só fez uma cara feia e depois sorriu para a porta.
- Outra vez Alice?
- Hn. - Dei a última tragada no cigarro, antes de apagá-lo na mesa do delegado.
- Me desculpe Sr. Thompson. Outra vez, me desculpe!
- Não se preocupe, Sra. Smith- Aquele maldito gordo levantou e cumprimentou minha mãe. Que nojo. Ela nem sabe onde ele coloca aquela mão quando está sozinho em sua sala.
Entramos no carro dela (minha mãe possui três), e agradeci mentalmente por voltarmos para casa em completo silêncio, mas sabia que isso não duraria muito tempo.
Cheguei em casa e subi direto para o meu quarto. Minha mãe sabia ser chata quando queria. A Sra. Smith é um exemplo de mulher batalhadora: Divorciada, se tornou advogada depois que se separou e se sacrificou muito para dar tudo do melhor para mim, sem depender da pensão do ex-marido. E como uma ótima advogada, sempre foi muito insistente e persuasiva quando preciso.
Quando eu terminar minha faculdade de direito, espero não ser tão chata quanto ela.
Não adiantou fugir, em poucos minutos ela já estava no meu quarto.
- Precisamos conversar.
- Você precisa. Eu não.
- Alice, eu acabei de ligar pro seu pai.
- E aquele idiota ainda está vivo?
- Você vai pra Tóquio amanhã.
O QUÊ?
-O quê? - Me levantei da cama, onde estava deitada, em um pulo. - E a minha faculdade? E meus amigos? E a minha vida aqui? Não vou morar com aquele...
- Ele é seu pai.
- Foda-se!
- Seu pai irá transferir sua matrícula para a melhor universidade de Tóquio e você fará novos amigos.
- Eu não estou conseguindo entender. Você nunca precisou fazer isso. Nunca precisou ligar pro meu pai... Por quê?
- Isso é pro seu bem meu anjo.
- Eu não sei falar japonês!
- Todas as aulas da faculdade são em inglês. E você ainda tem uma aula pra aprender a língua de lá.
Eu fiquei muda. É sério? Minha vida vai se transformar num inferno porque bati o carro dela umas, sei lá... dez vezes? Só porque essa décima me levou pra delegacia? Japão? Eu vou sair da Inglaterra pra morar naquele lugar louco? E pior, rever meu pai?
- Mãe - Tentei apelar para o emocional, sem deixar de ser mentira, claro! - Eu não quero ficar longe de você por um ano inteiro.
- Você pode me visitar nas férias. Seu pai é dono de uma Multinacional e não vai se importar em pagar seus gastos de viagem.
- Mas mãe... Eu prometo que por... seis meses eu não pego seu carro, nem bebo mais...
- Independente disso meu anjo. Você vai pra Tóquio. Até amanhã. - Antes de sair ela se virou - A Anny vai arrumar as suas malas amanhã bem cedo. Seu voo sai ás 10 da manhã.

Japão. Puta que pariu. Japão! Com o pensamento na terra do sol nascente e naquele homem que eu vou ver depois de 18 anos, eu adormeci.

Sinopse



Olá!


Aqui quem fala é a B.K


Sinopse:
"A Cadeia dos Antagônicos conta a história de Alice, uma garota comum de Londres.
Depois de parar na delegacia por estar dirigindo alcoolizada e acabar com o carro da mãe, se vê obrigada a se mudar para o Japão, para a casa de seu pai.
Sua viagem até lá passa a ser um inferno, pois seu pai e ela não possuem uma relação agradável. Para concluir, ainda tem um "irmão" adotivo que faz de tudo para piorar ainda mais sua estadia.
Entre amores e confusões, Alice vai perceber que nem tudo é o que parece.
Nem seu passado."



A Cadeia dos Antagônicos é uma história fictícia de minha autoria.Ao retirar qualquer texto deste blog, por favor, dar os devidos créditos.