segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Capítulo IV

"Minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem de grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite." - Clarice Lispector


Eu olhei pra ele. Estava com um sorriso enorme, olhando para mim.
Idiota.
A visão que eu tinha dele de quando eu era criança era completamente diferente. Antes era esbelto e com cabelos negros e bonitos, agora ele estava gordo e com os cabelos já um pouco grisalhos.
Eu o olhei com toda a expressão de nojo e ódio que eu possuía. E seu sorriso desmanchou.

- Bem vinda Alice! - Uma bela japonesa chega do meu lado – Eu sou Iumi, mãe do bonitão do seu lado. - Eu olhei pro Takashi, com cara de deboche.
- Bebezão da mamãe!
-Cala a boca. - Ele me olhou com cara feia, antes de virar a cara.
- Seja bem vinda Alice! - Aquele verme olhou pra mim e abriu os braços, esperando meu abraço.
E eu o ignorei.
- Poderia me mostrar meu quarto, Iumi?
- Claro meu anjo. - Ela sorriu e me indicou o caminho.
Antes que eu pudesse passar do seu lado, o Sr. Hopkins segurou o meu braço.
- Alice...
- Não toque em mim, seu verme!
Ele arregalou os olhos e me soltou. Eu segui Iumi e senti que o Takashi me seguia também.
Subimos as escadas e me deparei com um belo quarto, com paredes vermelhas, e os móveis brancos.
- Bem, esse é seu quarto, Alice. - Iumi sorriu – Espero que goste. Aliás, está com fome? Vou preparar algo para você comer.
Ela saiu e o Takashi entrou no quarto, com aquela habitual cara de malvado.
- Quer me ver trocar de roupa? Senta na cama e fica à vontade que eu faço um strip-tease pra você.
Nenhuma expressão diferente. Nenhuma palavra.
- O que você quer? Se não quer ver meu strip-tease, sai do quarto.
- Eu sei o quanto o seu pai foi idiota no passado. Mas não significa que uma bastarda da Inglaterra possa chegar aqui e revirar essa casa. - Ele chegou muito, muito perto de mim. O suficiente pra eu sentir um perfume amadeirado.
- Olha aqui Senhor Matsuda. Se você entrou no meu quarto pra falar de um papaizinho arrependido que quer tentar conciliação com a filhinha rebelde dele, pode sair pelo mesmo lugar que você entrou.
Ele riu sarcasticamente.
- Na verdade sua vida não me interessa. O que eu realmente queria dizer é que é pra você não fazer uma bagunça nessa casa. Temos problemas demais pra aguentar uma pessoa como você dando trabalho. - Ele sorriu de canto. Com esse sorriso eu senti que apenas queria me deixar brava. Então, preferi ignorar o que ele disse. - Enfim, não ouse entrar no meu quarto e eu saio exatamente às 7:30 da manhã para a universidade. Exatamente. Se você não estiver pronta nesse horário, vai perder a carona.
- Que lindo. Não achei que fosse me dar carona. - Sai de perto dele e comecei a tirar meus sapatos.
- hn – Ele se virou, bem no momento que a Sra Matsuda chegou.
- Meu anjo, eu trouxe uma comidinha pra você. - Olhei para o prato e me surpreendi. Ela havia preparado Cottage Pie (uma torta de carne a base de purê de batata) para mim, típica da Inglaterra. - Andei pesquisando sobre a culinária inglesa e fiz algumas coisinhas para você. Espero que goste!
- Você não precisa se preocupar comigo! - Olhei para o prato e meu estômago roncou alto – Eu como qualquer coisa, aliás, adoro comida japonesa.
Ela me deu o prato e me deliciei com o Cottage. Estava delicioso!
- Muito obrigada Sra. Matsuda! - Comi mais um pedaço e continuei a falar de boca cheia – Todo mundo aqui fala inglês? Minha universidade também terá aulas em inglês?
- Claro. Todos que trabalham aqui falam inglês, coreano e japonês. E sua escola terá aulas exclusivamente em língua inglesa.
- Ah, que bom! - Eu já estava limpando o prato – Porque japonês é uma língua meio difícil.
- Mas você não precisa se preocupar, estamos aqui pra te ajudar.
- Obrigada! - Ela pegou o prato, fez uma pequena reverência com a cabeça antes de se retirar. Vou ter que me acostumar com esses costumes nipônicos...
Desfiz as malas, fui tomar um ótimo banho, troquei de roupa e fiquei o resto do dia procurando algum canal de TV que eu entendesse. Havia alguns canais de filmes, o que me salvou do tédio, já que eu não queria sair do quarto. Tentei o dia todo segurar o sono, pra poder me acostumar com o fuso-horário daqui, já que depois de amanhã começa as aulas.
Eu já não aguentava mais de tanto sono, quando olhei no relógio e era 11:13 pm. Pra minha surpresa tinha um telefone no meu quarto, em cima de uma pequena escrivaninha. Junto ao telefone, havia um papel com número do DDI, pra fazer ligações para a Inglaterra.

Peguei o telefone e liguei pra minha mãe. Tocou bastante até ela decidir atender.
- Mãe?
- Oi Alice! Chegou bem meu amor?
- Sim, mãe. - Minha voz estava sonolenta.
- Você está bem? Como foi de viagem? Comeu bem? Como te trataram? Onde você está agora?
- Sim, mãe. A viagem foi ótima e me trataram bem.
- E seu pai?
- O Sr. Hopkins? Se quer saber, liga pra ele e pergunta.
- Conversou com ele?
- Não.
Ela ficou muda.
- Eu tô aqui no meu quarto. Onde você está?
- Eu... Bem... Estou resolvendo um probleminha aqui.
- Certo. E onde?
- No hospital.
- Fazendo o quê aí? - Percebi que o sono estava tomando conta de mim.
- Isso é algo que seria melhor conversarmos depois com mais calma. Você está bem mesmo? Sua voz...
- Tô com sono...
- Então vá dormir.
- Ahan... - Meus olhos estavam tremendamente pesados e como eu estava com o telefone deitada na cama, me sentia cada vez mais tentada a fechá-los e não abrí-los até segunda-feira. - Me fala por que está no  hospital, mãe!
- Tenho que desligar agora. Se cuide e qualquer coisa, sua mãe está aqui.
- Mãe, caralho!!! - Ela desligou e ainda brava, adormeci.

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