domingo, 5 de outubro de 2014

Capítulo IX

TRIIIIIIIM, TRIIIIIIIIM
Acordei assustada e desliguei o despertador.
O relógio marcava exatamente 6:03. Eu sempre coloco despertador com números quebrados. Foi uma mania herdada pela minha mãe.
Recordei o que aconteceu no dia anterior. Nossa, eu dormi no colo do Takashi! Que vergonha! E ele aninhava meus cabelos. Dormi por muito tempo... Quase umas 14 horas!
Notei que Takashi havia fechado a janela do meu quarto, me coberto com um edredom rosa e tirado meus sapatos e alguns adornos, como duas pulseiras, um colar e a minha tiara de cabelo.
Me levantei meio tonta e comecei a preparar minhas coisas pra tomar um banho rápido no banheiro do meu quarto. Depois da ducha rápida, fui até o closet escolher qualquer roupa. Em seguida, trocando várias vezes de roupa, me decidi por um shorts jeans escuro, uma regata com a bandeira dos EUA de paetê, uma jaqueta de couro e meu sneaker preto. Ah, tá ótimo!
Peguei meu material e saí do quarto, me assustando com um Takashi também assustado, com as mãos levantadas, provavelmente pronto para bater na porta.
- É.. Bom dia. - Sorri amarelo
Ele desmanchou a cara de assustado e manteve sua habitual expressão de "foda-se".
- Hn. - Disse simplesmente. - Vou tomar o café da manhã.
- O que você ia fazer no meu quarto?
- Quem disse que eu ia pro seu quarto? - E foi em direção às escadas, antes que eu dissesse mais alguma coisa. Imbecil...
Desci as escadas atrás dele e estava tudo calmo. O segui em direção à sala de jantar e lá estava umas torradas, um bule com chá, pães caseiros e suco de laranja. Tomei apenas um suco e duas torradas e fui rápido escovar os dentes.
Quando saí da mansão, Takashi já me esperava dentro do seu carro. Entrei e no rádio tocava uma música que nunca tinha escutado na vida.
"I'm sick jigaku e ask
Afurekaeru lies
Can you see it? This feelings… Tsumetaku uchitsukeru quiet"*
- Que música é essa?
- Você não conhece. - Ele continuou dirigindo sem olhar pra mim.
- Ah, claro! E você acha que se eu conhecesse iria perguntar?
- Procura no google, Alice.
- Por que o mau humor?
Ele não respondeu. Apenas respirou fundo, entediado. E continuou dirigindo. Ele tá de brincadeira com a minha cara, só pode!
Fiquei em silêncio também até chegarmos no estacionamento da Universidade. Tinha muitas, mas muitas meninas rodeando os carros mais chamativos e caros do estacionamento.
Takashi desligou o rádio e desceu do carro. Eu o acompanhei.
- Takashi! Como foi seu fim de semana? - Uma japonesa com cabelos castanho-claros, totalmente maquiada e trajando uma micro-saia chegou correndo ao encontro do Takashi. - Por que você não me ligou?
- Por que eu tive coisa mais importante pra fazer. - Hn, que bom que o Takashi não é chato somente comigo.
Eu cheguei do lado dele, pra mostrar que eu era a coisa importante que fez ele não ligar pra essa vaca.
- Olá garotas. - Me virei pro Takashi com a cara mais mal lavada do mundo - Meu anjo, você não disse que conhecia tanta menina assim...
O queixo da falsificada caiu. Alice wins!! Vi um pequeno sorriso de canto transparecendo no Takashi.
A menina se recompôs e estendeu a mão pra mim.
- Muito prazer, me chamo Hanna. Com dois N's. - Foda-se pro nome dela. - Você é o quê do nosso Takashi?
- O prazer é todo seu. - apenas olhei pra mão estendida dessa Hana (com um N só, de pirraça!), com nojo - Me chamo Alice. Vim da Inglaterra. E não interessa a você o que eu sou do Takashi.
Eu via o idiota com cara de deboche. Se tem algo que eu particularmente adoro é ter haters nas escolas em que eu estudo. Tudo fica tão mais divertido!
- Vamos Takashi-kun? - Alice, tão malvada quanto adorável...
Ele me seguiu ainda com aquele sorrisinho.
- Você teve ataque de ciúmes ou o quê?
- Ciúmes de quem? Você? - Ri forçadamente - Me poupe. Eu faria o mesmo se fosse qualquer um dos seus amigos gatinhos.
- Hn, valeu, seja lá o que você quis fazer. A Hanna é insuportável.
- E você não acha que eu mereço um prêmio especial por te ajudar?
- Depois eu te compro uma barra de chocolate. - E saiu em direção ao corredor Administrativo, indo para o prédio de Engenharia.
- Na verdade não era isso que eu queria... - Falei mais pra mim mesma, antes de procurar o prédio de Direito.

- Com licença. - O professor de Psicologia (de acordo com meus horários), parou o que dizia e olhou diretamente pra mim. - Eu sou aluna nova na Universidade...
- Pode entrar. Você é a Alice, correto? - O professor veio ao meu encontro. Charmoso, de social, me encantou. Ele parecia ter 28 anos, mais ou menos. E seu sorriso era tão deslumbrante que me fez paralisar, - Alunos, essa é Alice Hopkins, filha de John Hopkins.
Pude ouvir uns "uau!", "oh!"... Grande merda ser filha dele.
- Professor, meu nome não é Alice Hopkins. É Alice Smith. Não quero ser tratada como a filha de John.
- Seu nome na chamada está como Hopkins, como seu pai colocou.
Será que não olharam meus documentos quando John fez minha matrícula? Ou será que talvez ele nem tenha usado meus documentos? Aliás, qual o grau de popularidade do Sr. Hopkins nessa instituição?
- Por favor, altere. - Sorri e ele sorriu também, acenando positivamente com a cabeça antes de me mostrar um lugar vago para me sentar.
- Continuando, como eu disse na semana passada, a psicologia...
- Ei! Ei menina! - Um garoto que estava atrás de mim começou a me cutucar. Me virei e rapidamente lembrei dele, o amigo do Takashi.
- Kai? - Sorri.
- Que bom que lembrou meu nome, Alice! - Ele sorriu, mostrando as covinhas. Mas que vontade de apertar aquelas bochechas...
Continuamos conversando a aula inteira de psicologia. Minhas notas nessa matéria eram ótimas na outra universidade e passar nela, pra mim, era a coisa mais fácil do mundo.
Kai é um garoto tímido com as mulheres, pelo que eu pude perceber. Ele toca bateria em uma banda e adora rock, principalmente uma banda chamada Luna Sea (me lembro de ter visto um pôster deles no quarto do Takashi). Ele diz que o estilo dele é Visual Kei, um estilo nascido no Japão, que mistura um pouco androginia com extravagância. Por isso o cabelo repicado e jogado de qualquer jeito no olho, as unhas pretas e aquele estilo meio sinistro.
A aula acabou sem que percebêssemos. Me despedi dele e fui procurar o chato do Takashi no prédio de Engenharia.
Não foi difícil encontrá-lo, já que aqueles amigos dele chamam mais atenção do que a Lady Gaga. Quando cheguei perto, fui pega de surpresa por alguém que segurou meu braço.
- Por favor, podemos conversar? - Era o Akira.
Não falei nada. Apenas o segui até um canto e pude perceber os olhos do Takashi sobre mim.
- Me desculpe pelo que aconteceu ontem, eu bebi saquê demais e fiz coisas que não deveriam... - Juro que nunca tinha visto um cara bêbado logo de manhã. Ele não sabe o seu limite...
- Olha Akira, é quando se está bêbado que as pessoas soltam algumas verdades. - Eu respirei antes de continuar - Eu te desculpo sim, contanto que nunca me chame pra sair se for pra você beber - E sorri, de deboche.
- Da próxima vez que eu te chamar, juro que não vou fazer isso, Alice. - Ele sorriu de forma sexy.
- Então, está tudo de boa. - Ignorei o sorriso dele - Aliás, tem mais um cigarro?
- Quantos você quiser. - E pegou dois blacks pra mim.
Eu guardei no bolso e voltamos pra perto dos meninos.
- E aí, cara, ela estava mais bêbada que o Batman e eu estava a ponto de comer ela – Dizia Daisuke – Só que aí ela me chamou de Takashi, velho... Me broxou na hora. Mandei ela ir passear e saí do Motel.
- Acho que isso não é uma conversa pra uma garota como a Alice escutar.... - Kai se virou pra mim sorrindo de lado, mostrando uma de suas covinhas.
- Acho que a Ally já fez coisa muito pior – Takashi riu de deboche e o fuzilei com os olhos.
- E os santos da vez são o Kai e o Takashi! - Daisuke Deu risada – Nem o Yuri é tão quadrado quanto esses dois.
- Por quê?
- Os dois manés disseram que cansaram de comer as menininhas. Preferem agora “relacionamento sério” - Disse Yuri, fazendo aspas com as mãos.
- Nós somos os mais velhos aqui. Já aproveitamos o suficiente. - Kai disse.
- Ah, e agora vocês querem casar e ter filhos? - Zombou Daisuke.
- Eu quero ter dois filhos – Acho que Kai não percebeu que zombavam dele e agia inocentemente. Tão fofo. Eu olhava pra ele sorrindo, pasma. É tão raro homens que pensam nisso hoje em dia...
Enquanto olhava pro Kai, não notei que Akira e Takashi me encaravam.
- Ah, para de zoar vocês. As mulheres amam homens que pensam como o Kai. Ele com certeza deve ter muitas meninas atrás dele.
- Pior que é verdade... - Disse tristemente Yuri. - as meninas vivem atrás desses dois idiotas aí.
- Se fosse uma garota como a Alice, eu aceitaria casar e ter quantos filhos ela quisesse. - E mais uma pérola vinda do Akira.
- Está bêbado de novo, infeliz? - Ri de deboche, e um tanto envergonhada. Acho que minha vergonha estava mais pela forma como Takashi AINDA me encarava, desde aquela hora.
- Bêbado pelo seu perfume, doçura. - Nem ele se aguentou e todos, inclusive o Takashi, caíram na risada.
- Acho que já deu a hora, galera! - Kai olhava no relógio. - Alice, teremos sempre as mesmas aulas. O seu irmãozinho me pediu que eu cuidasse de você.
- E já estou me arrependendo disso... - O ouvi murmurar, antes de se virar e ir em direção às escadas, junto com o Akira.




*Música: Deragement - The GazettE

Capítulo VIII

Sentada na enorme mesa, eu estava quieta. E na minha frente, um gostoso ria de deboche. Idiota. Se ele soubesse pelo menos 1% de como eu me sinto, não ficaria fazendo graça.
Esperando alguns minutos, que pareciam mais uma eternidade, a Sra. Matsuda chega na sala de jantar fazendo barulho com seu salto alto.
- Daqui a pouco o John chega. - Ela sorri pra mim, eu simplesmente abaixo a cabeça. - Ei, Kenichi Matsuda! Não toque nesse frango assado!
- Ah mãe... - De canto de olho, vejo o pequeno amuado, mostrando o beicinho em desapontamento.
-Você está bem querida? Eu vou me sentar aqui, não se preocupe. - Ela se senta na cadeira que fica na cabeceira da mesa, onde comumente os anfitriões da casa sentam. Agradeço aos céus pela preocupação dela em relação àquele... estar sentado do meu lado.
- Boa tarde! - O Sr. Hopkins entra na sala e eu abaixo a cabeça imediatamente. - Como foi o dia de vocês?
Eu continuo quieta, já me servindo na mesa, com batatas, frango, um pouco de arroz e num prato menor, alguns sushis e um temaki de salmão com cebolinha. A mesa estava farta de várias coisas. A Sra. Matsuda fez questão de alternar vários pratos diferentes e a maior parte do meu prato era de Strognoff de frango com Champignon, meu preferido.
- Nossa pirralha, você come pra cacete hein? - Takashi não perdia uma oportunidade. E pior, ele debochava de mim com um prato do dobro do tamanho do meu.
- Ah, sou eu né? - Sorri pra ele.
- Eu tomei a liberdade de ligar para a sua mãe ontem. - A Sra Iumi, interrompeu nossa estranha troca de olhares. - Eu pedi pra ela que me passasse algumas coisas que você gosta de comer, de fazer... Eu espero que você não fique brava, nós aqui queremos te deixar o mais à vontade possível.
- Menos eu, claro. - Takashi interrompeu, dando um sorrisinho pra mim, enquanto enfiava metade do temaki na boca.
- Não ligo que você fale com ela, sem problemas! - Sorri enquanto comia uma batata.
- Sua mãe... Ela... Está bem? - Ouvi uma voz grossa, mas não me virei para encará-lo.
- Melhor do que quando esteve com você, pode ter certeza. - Continuei comendo e olhando fixamente para o Takashi, que me olhava com um gesto de... compreensão? É isso mesmo?
Ouvi talheres sendo largados na mesa com voracidade e me assustei. Aliás, todo mundo na mesa se assustou.
- Eu estou tentando Alice. Estou tentando ser um pai sociável!! Estou tentando voltar atrás com meu erro, porque eu a amo muito minha filha. Mesmo depois desses anos lon...
- NÃO TENTE! - Me levantei, furiosa e gritando. - Não tente fazer nada! Não tente ser um pai sociável, não tente dizer que me ama, porque eu sei que é mentira. Não tente arrumar um erro como o que você fez. Não tente me chamar novamente de filha. Eu não tenho um pai como você.
Minha fúria estava excedendo os limites e comecei a dizer coisas que não deveriam nunca sair da minha boca.
- Não tente ser uma pessoa amável se você quase bateu na minha mãe! Não tente ser uma pessoa que se importa comigo se você nos deixou pra ir embora com uma prostituta, sem ao menos olhar para mim ao sair por aquela maldita porta! - Eu já estava chorando. - Jamais tente achar que um erro se apaga com o tempo. E nunca! Nunca tente falar comigo de novo. Você estragou nossa família, machucou a minha mãe e a mim. Você é um verme!
- Cala a boca! - Takashi interviu. - Vamos pro quarto Alice.
- Eu não preciso de guarda-costas, já estou indo.
Sai apressadamente e fui direto pro meu quarto. Antes que eu fechasse a porta, Takashi a empurrou com força pra poder entrar.
- O que você quer imbecil? Jogar na minha cara o que eu falei? Dizer que eu fiz um showzinho ridículo?
Sem dizer uma palavra ele fechou a porta e a trancou. Se virou pra mim e simplesmente me abraçou.
- Chore.
Não precisou dizer duas vezes para eu desabar em seus braços. Nunca senti tanta segurança como senti nele. Ele me levou até minha cama e lá, chorei no seu colo. E não disse mais nenhuma palavra até eu adormecer.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Capítulo VII

- Mãe?
- Oi Alice, você está com tanta saudade assim da sua mãe pra ligar todos os dias?
- Sua ingrata. Eu me preocupo com você, sabia? Já pode me falar o que foi fazer no hospital?
- Exames de rotina, só isso. - Ela riu - Sua mãe é grandinha demais pra precisar de tanta preocupação.
- Para de ser boba. Você sabe que apesar de eu não ser a melhor filha do mundo, eu me preocupo com você. - Olhei para o nosso retrato, que havia colocado na escrivaninha. Sentia tantas saudades dela...
- Obrigada meu anjo. - Imaginei ela sorrir do outro lado da linha.
- Vou desligar aqui. Eu quero conhecer mais esse fim de mundo. Quando der eu te ligo de novo.
- Tchau, eu te amo.
Desliguei.

Saí do meu quarto, entediada. Decidi conhecer essa mansão antes de sair pela cidade.
No térreo da casa fica a cozinha, a sala de estar e a sala de jantar. A cozinha é enorme, com um armário que ocupa metade do espaço, um fogão de seis bocas, um micro-ondas com teclas de touch e um refrigerador de última geração, com uma tela de LCD de nem sei quantas polegadas. Mais a fundo havia uma dispensa enorme.
A cozinheira estava lá, cortando batatas em cima do balcão que ficava no cento da cozinha. Ela sorriu pra mim e retribui.
- Eu estou apenas conhecendo a casa. Não precisa se preocupar.
- Fique a vontade menina. Você é a herdeira dessa casa.
Sorri envergonhada e saí rapidamente tentando ignorar o que ela disse.
Na sala de estar, havia um sofá enorme. Na verdade, tudo nessa casa é tamanho GG. O sofá tinha dez lugares, além de uma poltrona e outro sofá de dois lugares. Com certeza não foi aquele tipo de sofá comprado em lojas comuns. Todo o estofado era tomado por uma mesa de centro. Num canto, uma pequena adega com uns vinhos que devem ser tão caros quanto o carro do Takashi...
Na sala de jantar, pasme: uma mesa, rústica, extra grande de 18 lugares. Quadros de paisagens antigas ocupavam as paredes da sala. Tudo naquele lugar emanava a Era Vitoriana.
Decidi subir para o primeiro andar, onde ficava um corredor com seis portas fechadas, três à minha direita, duas à minha esquerda e uma em frente.
A primeira porta à direita era o quarto do Kenichi. Eu abri e ele estava vendo algum anime. Ele me encarou e voltou a fixar os olhos na tv. Seu quarto tinha uma parede azul marinho, que se destacava ante as outras brancas. Essa parede tinha uma prateleira cheia de robôs e réplicas de personagens de animes. Sua cama ficava de canto e a televisão ocupava grande parte de uma parede. Havia também um closet, quase não o vi, já que era da mesma cor da parede. E, por fim, do lado da prateleira havia uma porta fechada, provavelmente o banheiro. E livros espalhados em uma escrivaninha do lado da sua cama também.
- Alice, vem ver deth nôti comigo?
- Ver o quê? - Antes que eu pudesse entrar mais no quarto, Takashi entrou de surpresa, me assustando.
- Eu não disse que não era pra você ver esse anime? Isso não é coisa pra criança! - Com uma velocidade incrível, aquele estúpido desligou a televisão e a tirou da tomada. - Assiste Pokémon!
- Tem hentai nesse anime Takashi-kun? - Ele olhava como se o Takashi não tivesse sido tão estúpido com ele. Eu apenas observava a cena.
- Não! Não tem mulher pelada. Tem sangue, morte. Coisas que vão fazer você ficar com medo do escuro.
- Eu sou homem Takashi-kun! - Ele se levantou da cama - Não tenho medo de escuro.
- Eu já disse que você não vai assistir isso, seu idiota. -Eu via saltar umas veias do pescoço do Takashi.
- Hey, Kenichi-kun! - Ele olhou para mim, com os olhos marejados. Que dó... - Por que você não me leva pra conhecer a sua casa? Depois eu compro o doce que você quiser em alguma doceria por aí. Vamos?
Ele sorriu. Takashi apenas abaixou a cabeça e saiu rasgando do quarto em direção ao térreo, não sem antes me empurrar com força contra a parede. Mas é um filho da...
- Vamos Ally-chan? - Ele estendeu a mão pequenininha pra mim.

A outra porta à direita era o meu quarto. E a terceira porta era o quarto do Takashi. Aproveitei que ele não estava lá e abri a porta.
- Se o Takashi-kun descobre que você tá entrando no quarto dele...
- Ele não vai descobrir se você ficar quietinho!
- Tá bom, Ally-chan!
Eu dei uma última espiada pelo corredor e entrei no quarto.
Assim como as paredes do quarto do Kenichi, o quarto do Takashi possuía uma parede em destaque na cor preta. Haviam pôsteres de bandas populares como Slipknot, Dead Fish, System Of a Down... E bandas que eu nunca ouvi falar, como 2PU, The GazettE, X-Japan...
O quarto era tomado por pôsteres na parede. Havia um computador num canto e um notebook em cima da cama. A cama, por sua vez possuía um baú, que estava cheio de discos de vinil e cds. Possuía um closet que parecia ser maior do que o do quarto do Kenichi e uma porta, que estava aberta, mostrando uma parte da banheira enorme e a pia, ambos na cor branca. Em uma prateleira perto da janela tinha um toca-discos, um video-game de última geração e uns robôs, como os do quarto do Kenichi.
- Nossa que quarto bonito!
- É sim, o onii-san também arrumou o meu, porque eu queria igualzinho o dele. Meu onii-san é tão legal! - Os olhinhos do mini-Takashi brilhavam.
- O que vocês estão fazendo aqui dentro? - A voz grossa me assustou de tal forma que eu pulei pra trás.
- Só estou conhecendo sua casa, seu chato. Você tem um quarto muito bonito, sabia?
- Hn. - Takashi, tão lindo quanto frio...
- Já estou saindo, só vim olhar. Eu não toquei em nenhum dos seus brinquedinhos.
Sai com Kenichi, antes que Takashi dissesse mais alguma coisa.

No lado esquerdo do corredor, na primeira porta, tinha o banheiro. Com uma pia enorme na cor tabaco, assim como a banheira e o vaso sanitário da mesma cor, transformava o ambiente em um banheiro de estilo vitoriano. Nunca imaginei que um simples banheiro poderia ser tão aconchegante assim. Sem contar que o espelho era enorme e com certos detalhes que deixava tudo ainda mais lindo.
A próxima porta estava trancada.
- O que é aqui, Kenichi?
- É o quarto de cinema. A gente costuma abrir ele toda sexta-feira pra ver algum filme legal. O onii-san chama todos os amigos dele pra comer pipoca com cerveja, mas ele nunca me deixa tomar...
Fui até a porta da frente. Estava aberta. O lugar estava escura, então liguei o interruptor. Era uma sala de jogos muito grande. A sala possuía uma mesa de pebolim, cinco televisores fixados na parede, dois destes eram com kinect, os outros três eram com videogames de última geração. Lá no fundo tinha um pequeno espaço e uma cesta de basquete. Além de tudo isso, ainda tinha mesa de sinuca e uma pista de boliche.
- Papai quis que todas as coisas que fizessem a gente se divertir ficasse pertinho do nosso quarto. Os cômodos de gente grande tá lá em cima. - E ele apontou o dedinho pro céu.
- Então a gente vai lá pra cima! - Fiz o mesmo gesto que ele, e ele sorriu pra mim, esticando o bracinho pra que eu pegasse na mão dele novamente.
Antes que subíssemos para o andar de cima, a Sra. Matsuda se aproxima.
- Crianças o almoço está pronto. - Ela sorri e olha diretamente pra mim - Alice, não sei o horário do seu almoço quando morava na Inglaterra, mas aqui estamos acostumados a almoçar um pouco mais tarde. Mas se quiser, eu preparo um almoço especialmente pra você mais cedo.
- Não precisa se preocupar Sra. Iumi. Não tem problema se eu almoçar mais tarde.
- É que nós preferimos almoçar todos juntos, toda a família reunida.
Sorri. Mas... toda a família? Meu sorriso fechou instantaneamente e ela percebeu, mas antes que pudesse dizer algo, Kenichi gritou:
- Vamos Alice, tô com fome!! - E puxou meu braço violentamente, me fazendo quase cair.
- Calma menino! - Tentava pará-lo, em vão. Descemos as escadas em direção a sala de jantar. Ela estava toda arrumada, com os talheres na mesa, devidamente colocados. Só havia comida gostosa ali.
- Senta do meu lado, Alice!! - Akira já tomou um lugar para si e me obrigou a sentar do seu lado.
Takashi já estava na mesa e me encarou quando eu sentei na sua frente.
- Duvido você ficar cinco minutos aqui, depois que ele se sentar do seu lado.
- É, eu também duvido... - Não queria ser rude com todos, mas também não queria aguentar aquele crápula.
O que eu iria fazer?

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Capítulo VI

Entramos naquele Cyber Café e me senti novamente em Londres. O lugar era bem iluminado, com diversas fotos de Londres nas paredes.
Bem lá no fundo, tinha uma roda de uns 4 garotos conversando e bebendo. Takashi foi até lá, me puxando pelo pulso, enquanto eu ficava que nem uma boba olhando a decoração do ambiente.
- Ohayo minna-san. - Takashi disse assim que chegou perto do grupo. Pelo jeito vou ficar que nem idiota, sendo a única que não sabe falar japonês. - Essa é a Alice. Ela não fala japonês.
- Sou o Daisuke– Um garoto magrelo e com o cabelo pintado de loiro me cumprimentou com um aceno. - Todos nós estudamos na Universidade de Tóquio, conhece?
- Infelizmente eu estarei lá amanhã. - Sorri sarcástica.
- Eu sou o Kai. - Um garoto com um rostinho de bebê e cabelo jogado no olho, me cumprimentou com o mesmo aceno com a cabeça que o Daisuke fez.. Percebi que ele estava com duas baquetas na mão. E além do seu visual gótico, suas unhas eram pretas também. Irado.
- Oi, eu sou o Yuri. Você é muito linda, sabia? Tem namorado? - Um cara com cabelo tigelinha e óculos grossos, provavelmente um nerd, já que tinha um jogo nas mãos que eu nunca tinha visto na vida. Devia ser algum lançamento.
- Você poderia parar de assustar a garota? - Um cara que estava sentado olhando para a janela, de costas para mim, virou-se bruscamente, me encarando. - Aliás, sou Akira. - E estendeu a mão, para me cumprimentar.
Ele tinha o cabelo um pouco curto e olhos bem mais rasgados que o do Takashi. Ele não tinha cara de menino como os outros e poderia até ser tão ou mais bombado que o Takashi, mas não deu pra comparar muito porque, apesar do tempo fresco, ele usava uma blusa de frio preta. Perfeito. Essa era a palavra que eu tinha pra ele naquele momento e...
- Acorda sua tonta! - Ouvi a voz do Takashi, antes de perceber que eu encarava demais o Akira.
- Sou Alice. Alice Smith. - Sorri para ele – Muito prazer!
Nos acomodamos no meio deles, fazendo com que Akira ficasse ao meu lado e Takashi na minha frente.
- Aceita um cigarro? - Akira se vira pra mim de repente.
- Claro. - Disse sem pensar duas vezes. Que se dane o ranzinza do Takashi. Era um cigarro Black de menta. Meu preferido.
Todos pegamos cappuccino e em pouco tempo já conversavam sobre assuntos que eu não entendia nada: carros.
Pra não ficar feito uma idiota enquanto falavam do último modelo do Mustang com não sei quantos cavalos de potência e que chegava a não sei quantas milhas, decidi pagar minha parte e sair, para o estacionamento.
Lá, peguei o cigarro e o isqueiro da bandeira da Inglaterra que eu nunca tirava do bolso e comecei a tragar. Sentia falta disso.
O vício é a única coisa que me faz esquecer dos meus problemas. A conversa estranha com a minha mãe, morar na mesma casa que uma pessoa que odeio, saber que nunca vou poder amar uma pessoa de verdade novamente...
- Você vai fazer que curso? - Fiquei tão perdida nos pensamentos que nem vi Akira chegar.
- Direito. E você?
- Faço Engenharia. Junto com seu irmãozinho. - Ele riu e não pude deixar de me contagiar com seu sorriso.
Soltei a fumaça do cigarro e olhei pro horizonte.
- Sabe que eu achei você muito linda? - Ele abaixou a cabeça com um sorriso de lado no rosto - Nunca disse isso pra uma garota na primeira vez que a vi. Você tem algo que está me fazendo querer ficar perto de você.
- Cola em mim. - Traguei e soltei a fumaça novamente, dando risada.
Sem pensar duas vezes, ele já estava na minha frente, bem perto de mim. Eu estava encostada no carro do Takashi e o Akira literalmente grudou em mim, me pressionando contra o carro. Seu rosto bem perto do meu. Aquele hálito de saquê me embriagava.
- Estou grudado o bastante? - Seu sorriso pervertido me fez querer rir da sua cara, mas me segurei. Ele era muito mais charmoso de perto. E aquela boca...
Ele segurou meu cabelo e chegou perto do meu ouvido.
- Quer que eu te leve pra minha casa? Lá a gente pode aproveitar mais... intimamente. - E começou a me agarrar ali mesmo. Me segurando com força enquanto tentava colocar a mão na minha bunda. 
Uma joelhada. Simples, mas suficiente pra ele colocar a mão no meio das pernas e me xingar de vadia.
- Você acha que eu sou o quê, seu filho da puta? Acha que sou as prostitutas que você pega? Você acha que é só dar um cigarro, falar coisas bonitinhas que eu já abro as pernas pra você? Abre os olhos japonês desgraçado!!
Takashi chegou perto de nós e viu Akira com a mão no saco, quase chorando de dor. Cena hilária.
- O que você fez Ally?
- Esse seu amiguinho aí achou que seria fácil se fazer de bonzinho pra depois querer me comer.
- Vai se fuder vadia. Você tava aí toda suspirando por mim, agora quer se fazer de vítima?
Eu não aguentei.
- Só porque você é gostoso não significa que vou abrir as pernas pra você, imbecil! - Antes que eu fosse pra cima dele, o Takashi me segurou pela cintura.
- Vamos embora Ally. - Ele olhou nos meus olhos - E leva esse bêbado aí, tô sentindo o cheiro de álcool de longe já - Ele disse para o resto do pessoal que chegou correndo pra ver a movimentação.
No carro, eu fiquei quieta. Mas o Takashi não, para minha infelicidade.
- Puta que pariu! Você não consegue se comportar em nenhum lugar que você vai? Gosta mesmo de chamar a atenção?
- Eu? O cara tava querendo me estuprar ali no estacionamento e eu sou a errada?
- Você deveria perceber que ele estava muito bêbado pra saber o que estava fazendo, não acha?
- Ah sim. Por ele estar bêbado, eu deveria deixá-lo colocar a mão onde bem entendesse?
Ele ficou quieto até chegarmos na casa dele. Então saiu do carro pisando forte e me deixou pra trás. Nem liguei pra isso, apenas subi pro meu quarto.