sexta-feira, 16 de maio de 2014

Capítulo VII

- Mãe?
- Oi Alice, você está com tanta saudade assim da sua mãe pra ligar todos os dias?
- Sua ingrata. Eu me preocupo com você, sabia? Já pode me falar o que foi fazer no hospital?
- Exames de rotina, só isso. - Ela riu - Sua mãe é grandinha demais pra precisar de tanta preocupação.
- Para de ser boba. Você sabe que apesar de eu não ser a melhor filha do mundo, eu me preocupo com você. - Olhei para o nosso retrato, que havia colocado na escrivaninha. Sentia tantas saudades dela...
- Obrigada meu anjo. - Imaginei ela sorrir do outro lado da linha.
- Vou desligar aqui. Eu quero conhecer mais esse fim de mundo. Quando der eu te ligo de novo.
- Tchau, eu te amo.
Desliguei.

Saí do meu quarto, entediada. Decidi conhecer essa mansão antes de sair pela cidade.
No térreo da casa fica a cozinha, a sala de estar e a sala de jantar. A cozinha é enorme, com um armário que ocupa metade do espaço, um fogão de seis bocas, um micro-ondas com teclas de touch e um refrigerador de última geração, com uma tela de LCD de nem sei quantas polegadas. Mais a fundo havia uma dispensa enorme.
A cozinheira estava lá, cortando batatas em cima do balcão que ficava no cento da cozinha. Ela sorriu pra mim e retribui.
- Eu estou apenas conhecendo a casa. Não precisa se preocupar.
- Fique a vontade menina. Você é a herdeira dessa casa.
Sorri envergonhada e saí rapidamente tentando ignorar o que ela disse.
Na sala de estar, havia um sofá enorme. Na verdade, tudo nessa casa é tamanho GG. O sofá tinha dez lugares, além de uma poltrona e outro sofá de dois lugares. Com certeza não foi aquele tipo de sofá comprado em lojas comuns. Todo o estofado era tomado por uma mesa de centro. Num canto, uma pequena adega com uns vinhos que devem ser tão caros quanto o carro do Takashi...
Na sala de jantar, pasme: uma mesa, rústica, extra grande de 18 lugares. Quadros de paisagens antigas ocupavam as paredes da sala. Tudo naquele lugar emanava a Era Vitoriana.
Decidi subir para o primeiro andar, onde ficava um corredor com seis portas fechadas, três à minha direita, duas à minha esquerda e uma em frente.
A primeira porta à direita era o quarto do Kenichi. Eu abri e ele estava vendo algum anime. Ele me encarou e voltou a fixar os olhos na tv. Seu quarto tinha uma parede azul marinho, que se destacava ante as outras brancas. Essa parede tinha uma prateleira cheia de robôs e réplicas de personagens de animes. Sua cama ficava de canto e a televisão ocupava grande parte de uma parede. Havia também um closet, quase não o vi, já que era da mesma cor da parede. E, por fim, do lado da prateleira havia uma porta fechada, provavelmente o banheiro. E livros espalhados em uma escrivaninha do lado da sua cama também.
- Alice, vem ver deth nôti comigo?
- Ver o quê? - Antes que eu pudesse entrar mais no quarto, Takashi entrou de surpresa, me assustando.
- Eu não disse que não era pra você ver esse anime? Isso não é coisa pra criança! - Com uma velocidade incrível, aquele estúpido desligou a televisão e a tirou da tomada. - Assiste Pokémon!
- Tem hentai nesse anime Takashi-kun? - Ele olhava como se o Takashi não tivesse sido tão estúpido com ele. Eu apenas observava a cena.
- Não! Não tem mulher pelada. Tem sangue, morte. Coisas que vão fazer você ficar com medo do escuro.
- Eu sou homem Takashi-kun! - Ele se levantou da cama - Não tenho medo de escuro.
- Eu já disse que você não vai assistir isso, seu idiota. -Eu via saltar umas veias do pescoço do Takashi.
- Hey, Kenichi-kun! - Ele olhou para mim, com os olhos marejados. Que dó... - Por que você não me leva pra conhecer a sua casa? Depois eu compro o doce que você quiser em alguma doceria por aí. Vamos?
Ele sorriu. Takashi apenas abaixou a cabeça e saiu rasgando do quarto em direção ao térreo, não sem antes me empurrar com força contra a parede. Mas é um filho da...
- Vamos Ally-chan? - Ele estendeu a mão pequenininha pra mim.

A outra porta à direita era o meu quarto. E a terceira porta era o quarto do Takashi. Aproveitei que ele não estava lá e abri a porta.
- Se o Takashi-kun descobre que você tá entrando no quarto dele...
- Ele não vai descobrir se você ficar quietinho!
- Tá bom, Ally-chan!
Eu dei uma última espiada pelo corredor e entrei no quarto.
Assim como as paredes do quarto do Kenichi, o quarto do Takashi possuía uma parede em destaque na cor preta. Haviam pôsteres de bandas populares como Slipknot, Dead Fish, System Of a Down... E bandas que eu nunca ouvi falar, como 2PU, The GazettE, X-Japan...
O quarto era tomado por pôsteres na parede. Havia um computador num canto e um notebook em cima da cama. A cama, por sua vez possuía um baú, que estava cheio de discos de vinil e cds. Possuía um closet que parecia ser maior do que o do quarto do Kenichi e uma porta, que estava aberta, mostrando uma parte da banheira enorme e a pia, ambos na cor branca. Em uma prateleira perto da janela tinha um toca-discos, um video-game de última geração e uns robôs, como os do quarto do Kenichi.
- Nossa que quarto bonito!
- É sim, o onii-san também arrumou o meu, porque eu queria igualzinho o dele. Meu onii-san é tão legal! - Os olhinhos do mini-Takashi brilhavam.
- O que vocês estão fazendo aqui dentro? - A voz grossa me assustou de tal forma que eu pulei pra trás.
- Só estou conhecendo sua casa, seu chato. Você tem um quarto muito bonito, sabia?
- Hn. - Takashi, tão lindo quanto frio...
- Já estou saindo, só vim olhar. Eu não toquei em nenhum dos seus brinquedinhos.
Sai com Kenichi, antes que Takashi dissesse mais alguma coisa.

No lado esquerdo do corredor, na primeira porta, tinha o banheiro. Com uma pia enorme na cor tabaco, assim como a banheira e o vaso sanitário da mesma cor, transformava o ambiente em um banheiro de estilo vitoriano. Nunca imaginei que um simples banheiro poderia ser tão aconchegante assim. Sem contar que o espelho era enorme e com certos detalhes que deixava tudo ainda mais lindo.
A próxima porta estava trancada.
- O que é aqui, Kenichi?
- É o quarto de cinema. A gente costuma abrir ele toda sexta-feira pra ver algum filme legal. O onii-san chama todos os amigos dele pra comer pipoca com cerveja, mas ele nunca me deixa tomar...
Fui até a porta da frente. Estava aberta. O lugar estava escura, então liguei o interruptor. Era uma sala de jogos muito grande. A sala possuía uma mesa de pebolim, cinco televisores fixados na parede, dois destes eram com kinect, os outros três eram com videogames de última geração. Lá no fundo tinha um pequeno espaço e uma cesta de basquete. Além de tudo isso, ainda tinha mesa de sinuca e uma pista de boliche.
- Papai quis que todas as coisas que fizessem a gente se divertir ficasse pertinho do nosso quarto. Os cômodos de gente grande tá lá em cima. - E ele apontou o dedinho pro céu.
- Então a gente vai lá pra cima! - Fiz o mesmo gesto que ele, e ele sorriu pra mim, esticando o bracinho pra que eu pegasse na mão dele novamente.
Antes que subíssemos para o andar de cima, a Sra. Matsuda se aproxima.
- Crianças o almoço está pronto. - Ela sorri e olha diretamente pra mim - Alice, não sei o horário do seu almoço quando morava na Inglaterra, mas aqui estamos acostumados a almoçar um pouco mais tarde. Mas se quiser, eu preparo um almoço especialmente pra você mais cedo.
- Não precisa se preocupar Sra. Iumi. Não tem problema se eu almoçar mais tarde.
- É que nós preferimos almoçar todos juntos, toda a família reunida.
Sorri. Mas... toda a família? Meu sorriso fechou instantaneamente e ela percebeu, mas antes que pudesse dizer algo, Kenichi gritou:
- Vamos Alice, tô com fome!! - E puxou meu braço violentamente, me fazendo quase cair.
- Calma menino! - Tentava pará-lo, em vão. Descemos as escadas em direção a sala de jantar. Ela estava toda arrumada, com os talheres na mesa, devidamente colocados. Só havia comida gostosa ali.
- Senta do meu lado, Alice!! - Akira já tomou um lugar para si e me obrigou a sentar do seu lado.
Takashi já estava na mesa e me encarou quando eu sentei na sua frente.
- Duvido você ficar cinco minutos aqui, depois que ele se sentar do seu lado.
- É, eu também duvido... - Não queria ser rude com todos, mas também não queria aguentar aquele crápula.
O que eu iria fazer?

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