domingo, 5 de outubro de 2014

Capítulo VIII

Sentada na enorme mesa, eu estava quieta. E na minha frente, um gostoso ria de deboche. Idiota. Se ele soubesse pelo menos 1% de como eu me sinto, não ficaria fazendo graça.
Esperando alguns minutos, que pareciam mais uma eternidade, a Sra. Matsuda chega na sala de jantar fazendo barulho com seu salto alto.
- Daqui a pouco o John chega. - Ela sorri pra mim, eu simplesmente abaixo a cabeça. - Ei, Kenichi Matsuda! Não toque nesse frango assado!
- Ah mãe... - De canto de olho, vejo o pequeno amuado, mostrando o beicinho em desapontamento.
-Você está bem querida? Eu vou me sentar aqui, não se preocupe. - Ela se senta na cadeira que fica na cabeceira da mesa, onde comumente os anfitriões da casa sentam. Agradeço aos céus pela preocupação dela em relação àquele... estar sentado do meu lado.
- Boa tarde! - O Sr. Hopkins entra na sala e eu abaixo a cabeça imediatamente. - Como foi o dia de vocês?
Eu continuo quieta, já me servindo na mesa, com batatas, frango, um pouco de arroz e num prato menor, alguns sushis e um temaki de salmão com cebolinha. A mesa estava farta de várias coisas. A Sra. Matsuda fez questão de alternar vários pratos diferentes e a maior parte do meu prato era de Strognoff de frango com Champignon, meu preferido.
- Nossa pirralha, você come pra cacete hein? - Takashi não perdia uma oportunidade. E pior, ele debochava de mim com um prato do dobro do tamanho do meu.
- Ah, sou eu né? - Sorri pra ele.
- Eu tomei a liberdade de ligar para a sua mãe ontem. - A Sra Iumi, interrompeu nossa estranha troca de olhares. - Eu pedi pra ela que me passasse algumas coisas que você gosta de comer, de fazer... Eu espero que você não fique brava, nós aqui queremos te deixar o mais à vontade possível.
- Menos eu, claro. - Takashi interrompeu, dando um sorrisinho pra mim, enquanto enfiava metade do temaki na boca.
- Não ligo que você fale com ela, sem problemas! - Sorri enquanto comia uma batata.
- Sua mãe... Ela... Está bem? - Ouvi uma voz grossa, mas não me virei para encará-lo.
- Melhor do que quando esteve com você, pode ter certeza. - Continuei comendo e olhando fixamente para o Takashi, que me olhava com um gesto de... compreensão? É isso mesmo?
Ouvi talheres sendo largados na mesa com voracidade e me assustei. Aliás, todo mundo na mesa se assustou.
- Eu estou tentando Alice. Estou tentando ser um pai sociável!! Estou tentando voltar atrás com meu erro, porque eu a amo muito minha filha. Mesmo depois desses anos lon...
- NÃO TENTE! - Me levantei, furiosa e gritando. - Não tente fazer nada! Não tente ser um pai sociável, não tente dizer que me ama, porque eu sei que é mentira. Não tente arrumar um erro como o que você fez. Não tente me chamar novamente de filha. Eu não tenho um pai como você.
Minha fúria estava excedendo os limites e comecei a dizer coisas que não deveriam nunca sair da minha boca.
- Não tente ser uma pessoa amável se você quase bateu na minha mãe! Não tente ser uma pessoa que se importa comigo se você nos deixou pra ir embora com uma prostituta, sem ao menos olhar para mim ao sair por aquela maldita porta! - Eu já estava chorando. - Jamais tente achar que um erro se apaga com o tempo. E nunca! Nunca tente falar comigo de novo. Você estragou nossa família, machucou a minha mãe e a mim. Você é um verme!
- Cala a boca! - Takashi interviu. - Vamos pro quarto Alice.
- Eu não preciso de guarda-costas, já estou indo.
Sai apressadamente e fui direto pro meu quarto. Antes que eu fechasse a porta, Takashi a empurrou com força pra poder entrar.
- O que você quer imbecil? Jogar na minha cara o que eu falei? Dizer que eu fiz um showzinho ridículo?
Sem dizer uma palavra ele fechou a porta e a trancou. Se virou pra mim e simplesmente me abraçou.
- Chore.
Não precisou dizer duas vezes para eu desabar em seus braços. Nunca senti tanta segurança como senti nele. Ele me levou até minha cama e lá, chorei no seu colo. E não disse mais nenhuma palavra até eu adormecer.

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