domingo, 5 de outubro de 2014

Capítulo IX

TRIIIIIIIM, TRIIIIIIIIM
Acordei assustada e desliguei o despertador.
O relógio marcava exatamente 6:03. Eu sempre coloco despertador com números quebrados. Foi uma mania herdada pela minha mãe.
Recordei o que aconteceu no dia anterior. Nossa, eu dormi no colo do Takashi! Que vergonha! E ele aninhava meus cabelos. Dormi por muito tempo... Quase umas 14 horas!
Notei que Takashi havia fechado a janela do meu quarto, me coberto com um edredom rosa e tirado meus sapatos e alguns adornos, como duas pulseiras, um colar e a minha tiara de cabelo.
Me levantei meio tonta e comecei a preparar minhas coisas pra tomar um banho rápido no banheiro do meu quarto. Depois da ducha rápida, fui até o closet escolher qualquer roupa. Em seguida, trocando várias vezes de roupa, me decidi por um shorts jeans escuro, uma regata com a bandeira dos EUA de paetê, uma jaqueta de couro e meu sneaker preto. Ah, tá ótimo!
Peguei meu material e saí do quarto, me assustando com um Takashi também assustado, com as mãos levantadas, provavelmente pronto para bater na porta.
- É.. Bom dia. - Sorri amarelo
Ele desmanchou a cara de assustado e manteve sua habitual expressão de "foda-se".
- Hn. - Disse simplesmente. - Vou tomar o café da manhã.
- O que você ia fazer no meu quarto?
- Quem disse que eu ia pro seu quarto? - E foi em direção às escadas, antes que eu dissesse mais alguma coisa. Imbecil...
Desci as escadas atrás dele e estava tudo calmo. O segui em direção à sala de jantar e lá estava umas torradas, um bule com chá, pães caseiros e suco de laranja. Tomei apenas um suco e duas torradas e fui rápido escovar os dentes.
Quando saí da mansão, Takashi já me esperava dentro do seu carro. Entrei e no rádio tocava uma música que nunca tinha escutado na vida.
"I'm sick jigaku e ask
Afurekaeru lies
Can you see it? This feelings… Tsumetaku uchitsukeru quiet"*
- Que música é essa?
- Você não conhece. - Ele continuou dirigindo sem olhar pra mim.
- Ah, claro! E você acha que se eu conhecesse iria perguntar?
- Procura no google, Alice.
- Por que o mau humor?
Ele não respondeu. Apenas respirou fundo, entediado. E continuou dirigindo. Ele tá de brincadeira com a minha cara, só pode!
Fiquei em silêncio também até chegarmos no estacionamento da Universidade. Tinha muitas, mas muitas meninas rodeando os carros mais chamativos e caros do estacionamento.
Takashi desligou o rádio e desceu do carro. Eu o acompanhei.
- Takashi! Como foi seu fim de semana? - Uma japonesa com cabelos castanho-claros, totalmente maquiada e trajando uma micro-saia chegou correndo ao encontro do Takashi. - Por que você não me ligou?
- Por que eu tive coisa mais importante pra fazer. - Hn, que bom que o Takashi não é chato somente comigo.
Eu cheguei do lado dele, pra mostrar que eu era a coisa importante que fez ele não ligar pra essa vaca.
- Olá garotas. - Me virei pro Takashi com a cara mais mal lavada do mundo - Meu anjo, você não disse que conhecia tanta menina assim...
O queixo da falsificada caiu. Alice wins!! Vi um pequeno sorriso de canto transparecendo no Takashi.
A menina se recompôs e estendeu a mão pra mim.
- Muito prazer, me chamo Hanna. Com dois N's. - Foda-se pro nome dela. - Você é o quê do nosso Takashi?
- O prazer é todo seu. - apenas olhei pra mão estendida dessa Hana (com um N só, de pirraça!), com nojo - Me chamo Alice. Vim da Inglaterra. E não interessa a você o que eu sou do Takashi.
Eu via o idiota com cara de deboche. Se tem algo que eu particularmente adoro é ter haters nas escolas em que eu estudo. Tudo fica tão mais divertido!
- Vamos Takashi-kun? - Alice, tão malvada quanto adorável...
Ele me seguiu ainda com aquele sorrisinho.
- Você teve ataque de ciúmes ou o quê?
- Ciúmes de quem? Você? - Ri forçadamente - Me poupe. Eu faria o mesmo se fosse qualquer um dos seus amigos gatinhos.
- Hn, valeu, seja lá o que você quis fazer. A Hanna é insuportável.
- E você não acha que eu mereço um prêmio especial por te ajudar?
- Depois eu te compro uma barra de chocolate. - E saiu em direção ao corredor Administrativo, indo para o prédio de Engenharia.
- Na verdade não era isso que eu queria... - Falei mais pra mim mesma, antes de procurar o prédio de Direito.

- Com licença. - O professor de Psicologia (de acordo com meus horários), parou o que dizia e olhou diretamente pra mim. - Eu sou aluna nova na Universidade...
- Pode entrar. Você é a Alice, correto? - O professor veio ao meu encontro. Charmoso, de social, me encantou. Ele parecia ter 28 anos, mais ou menos. E seu sorriso era tão deslumbrante que me fez paralisar, - Alunos, essa é Alice Hopkins, filha de John Hopkins.
Pude ouvir uns "uau!", "oh!"... Grande merda ser filha dele.
- Professor, meu nome não é Alice Hopkins. É Alice Smith. Não quero ser tratada como a filha de John.
- Seu nome na chamada está como Hopkins, como seu pai colocou.
Será que não olharam meus documentos quando John fez minha matrícula? Ou será que talvez ele nem tenha usado meus documentos? Aliás, qual o grau de popularidade do Sr. Hopkins nessa instituição?
- Por favor, altere. - Sorri e ele sorriu também, acenando positivamente com a cabeça antes de me mostrar um lugar vago para me sentar.
- Continuando, como eu disse na semana passada, a psicologia...
- Ei! Ei menina! - Um garoto que estava atrás de mim começou a me cutucar. Me virei e rapidamente lembrei dele, o amigo do Takashi.
- Kai? - Sorri.
- Que bom que lembrou meu nome, Alice! - Ele sorriu, mostrando as covinhas. Mas que vontade de apertar aquelas bochechas...
Continuamos conversando a aula inteira de psicologia. Minhas notas nessa matéria eram ótimas na outra universidade e passar nela, pra mim, era a coisa mais fácil do mundo.
Kai é um garoto tímido com as mulheres, pelo que eu pude perceber. Ele toca bateria em uma banda e adora rock, principalmente uma banda chamada Luna Sea (me lembro de ter visto um pôster deles no quarto do Takashi). Ele diz que o estilo dele é Visual Kei, um estilo nascido no Japão, que mistura um pouco androginia com extravagância. Por isso o cabelo repicado e jogado de qualquer jeito no olho, as unhas pretas e aquele estilo meio sinistro.
A aula acabou sem que percebêssemos. Me despedi dele e fui procurar o chato do Takashi no prédio de Engenharia.
Não foi difícil encontrá-lo, já que aqueles amigos dele chamam mais atenção do que a Lady Gaga. Quando cheguei perto, fui pega de surpresa por alguém que segurou meu braço.
- Por favor, podemos conversar? - Era o Akira.
Não falei nada. Apenas o segui até um canto e pude perceber os olhos do Takashi sobre mim.
- Me desculpe pelo que aconteceu ontem, eu bebi saquê demais e fiz coisas que não deveriam... - Juro que nunca tinha visto um cara bêbado logo de manhã. Ele não sabe o seu limite...
- Olha Akira, é quando se está bêbado que as pessoas soltam algumas verdades. - Eu respirei antes de continuar - Eu te desculpo sim, contanto que nunca me chame pra sair se for pra você beber - E sorri, de deboche.
- Da próxima vez que eu te chamar, juro que não vou fazer isso, Alice. - Ele sorriu de forma sexy.
- Então, está tudo de boa. - Ignorei o sorriso dele - Aliás, tem mais um cigarro?
- Quantos você quiser. - E pegou dois blacks pra mim.
Eu guardei no bolso e voltamos pra perto dos meninos.
- E aí, cara, ela estava mais bêbada que o Batman e eu estava a ponto de comer ela – Dizia Daisuke – Só que aí ela me chamou de Takashi, velho... Me broxou na hora. Mandei ela ir passear e saí do Motel.
- Acho que isso não é uma conversa pra uma garota como a Alice escutar.... - Kai se virou pra mim sorrindo de lado, mostrando uma de suas covinhas.
- Acho que a Ally já fez coisa muito pior – Takashi riu de deboche e o fuzilei com os olhos.
- E os santos da vez são o Kai e o Takashi! - Daisuke Deu risada – Nem o Yuri é tão quadrado quanto esses dois.
- Por quê?
- Os dois manés disseram que cansaram de comer as menininhas. Preferem agora “relacionamento sério” - Disse Yuri, fazendo aspas com as mãos.
- Nós somos os mais velhos aqui. Já aproveitamos o suficiente. - Kai disse.
- Ah, e agora vocês querem casar e ter filhos? - Zombou Daisuke.
- Eu quero ter dois filhos – Acho que Kai não percebeu que zombavam dele e agia inocentemente. Tão fofo. Eu olhava pra ele sorrindo, pasma. É tão raro homens que pensam nisso hoje em dia...
Enquanto olhava pro Kai, não notei que Akira e Takashi me encaravam.
- Ah, para de zoar vocês. As mulheres amam homens que pensam como o Kai. Ele com certeza deve ter muitas meninas atrás dele.
- Pior que é verdade... - Disse tristemente Yuri. - as meninas vivem atrás desses dois idiotas aí.
- Se fosse uma garota como a Alice, eu aceitaria casar e ter quantos filhos ela quisesse. - E mais uma pérola vinda do Akira.
- Está bêbado de novo, infeliz? - Ri de deboche, e um tanto envergonhada. Acho que minha vergonha estava mais pela forma como Takashi AINDA me encarava, desde aquela hora.
- Bêbado pelo seu perfume, doçura. - Nem ele se aguentou e todos, inclusive o Takashi, caíram na risada.
- Acho que já deu a hora, galera! - Kai olhava no relógio. - Alice, teremos sempre as mesmas aulas. O seu irmãozinho me pediu que eu cuidasse de você.
- E já estou me arrependendo disso... - O ouvi murmurar, antes de se virar e ir em direção às escadas, junto com o Akira.




*Música: Deragement - The GazettE

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