quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Capítulo I

Você sai. Você bebe. Você fuma. Você bebe mais ainda. Aí você pega o carro da sua mãe e decide fazer um racha com seu amigo. Mas o último lugar que você quer parar depois de tomar um porre e ainda bater o carro é na delegacia.
- Sim, ela está aqui de novo - O delegado falava no telefone - Sim, Sra. Smith. Dessa vez ela está aqui com um carro batido. - Ele escutava a voz irritante da minha mãe, totalmente atencioso - Seu carro? Puxa... Sim, claro. Até daqui a pouco.
Então ele desligou o telefone e me encarou. Encarou minha roupa também. Eu estava com uma calça jeans bem justa e surrada, uma regata vermelha, uma jaqueta de couro e um all star velho. O Filho da puta tava olhando era o decote da minha blusa, isso sim. E eu estava pouco me importando pra isso. Peguei o cigarro e acendi, ali dentro mesmo.
-Srta. Smith...
- Vá se ferrar. - E dei a primeira tragada.
- Só não te coloco na prisão por causa da sua mãe.
Dei outra tragada e suspirei. Gostaria de matar esse idiota.
- Claro, você não cansa de olhar pra bunda dela. Mas ela não curte caras como você.
Ele só fez uma cara feia e depois sorriu para a porta.
- Outra vez Alice?
- Hn. - Dei a última tragada no cigarro, antes de apagá-lo na mesa do delegado.
- Me desculpe Sr. Thompson. Outra vez, me desculpe!
- Não se preocupe, Sra. Smith- Aquele maldito gordo levantou e cumprimentou minha mãe. Que nojo. Ela nem sabe onde ele coloca aquela mão quando está sozinho em sua sala.
Entramos no carro dela (minha mãe possui três), e agradeci mentalmente por voltarmos para casa em completo silêncio, mas sabia que isso não duraria muito tempo.
Cheguei em casa e subi direto para o meu quarto. Minha mãe sabia ser chata quando queria. A Sra. Smith é um exemplo de mulher batalhadora: Divorciada, se tornou advogada depois que se separou e se sacrificou muito para dar tudo do melhor para mim, sem depender da pensão do ex-marido. E como uma ótima advogada, sempre foi muito insistente e persuasiva quando preciso.
Quando eu terminar minha faculdade de direito, espero não ser tão chata quanto ela.
Não adiantou fugir, em poucos minutos ela já estava no meu quarto.
- Precisamos conversar.
- Você precisa. Eu não.
- Alice, eu acabei de ligar pro seu pai.
- E aquele idiota ainda está vivo?
- Você vai pra Tóquio amanhã.
O QUÊ?
-O quê? - Me levantei da cama, onde estava deitada, em um pulo. - E a minha faculdade? E meus amigos? E a minha vida aqui? Não vou morar com aquele...
- Ele é seu pai.
- Foda-se!
- Seu pai irá transferir sua matrícula para a melhor universidade de Tóquio e você fará novos amigos.
- Eu não estou conseguindo entender. Você nunca precisou fazer isso. Nunca precisou ligar pro meu pai... Por quê?
- Isso é pro seu bem meu anjo.
- Eu não sei falar japonês!
- Todas as aulas da faculdade são em inglês. E você ainda tem uma aula pra aprender a língua de lá.
Eu fiquei muda. É sério? Minha vida vai se transformar num inferno porque bati o carro dela umas, sei lá... dez vezes? Só porque essa décima me levou pra delegacia? Japão? Eu vou sair da Inglaterra pra morar naquele lugar louco? E pior, rever meu pai?
- Mãe - Tentei apelar para o emocional, sem deixar de ser mentira, claro! - Eu não quero ficar longe de você por um ano inteiro.
- Você pode me visitar nas férias. Seu pai é dono de uma Multinacional e não vai se importar em pagar seus gastos de viagem.
- Mas mãe... Eu prometo que por... seis meses eu não pego seu carro, nem bebo mais...
- Independente disso meu anjo. Você vai pra Tóquio. Até amanhã. - Antes de sair ela se virou - A Anny vai arrumar as suas malas amanhã bem cedo. Seu voo sai ás 10 da manhã.

Japão. Puta que pariu. Japão! Com o pensamento na terra do sol nascente e naquele homem que eu vou ver depois de 18 anos, eu adormeci.

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